segunda-feira, 10 de outubro de 2011

APRENDER A APRENDER - Neoliberal? - PEDRO DEMO (2011)


De repente, aprender a aprender virou estigma neoliberal. Quem usa esta expressão (aprender a aprender), está ipso facto se declarando neoliberal. Certamente, esta expressão vem sendo usada preponderantemente em contextos neoliberais próprios de empresas e propostas privadas de educação, como é o caso de um de seus mentores mais conhecidos, Novak (2009. Novak et alii, 1984), sem falar em sites múltiplos que usam esta nomenclatura tendencial ou escrachadamente para fins comerciais, não educacionais (How to Learn.com, 2011. Learning to learn, 2011. Learn to learn, 2011. ACE Distance, 2011, Campaign for learning, 2011). Cita-se frequentemente ao educador John Holt: “Já que não podemos saber qual conhecimento será mais necessário no futuro, é sem sentido tentar ensiná-lo previamente. Ao invés, deveríamos tentar inventar pessoas que amam aprender tanto e aprendem tão bem que serão capazes de aprender o que sempre for necessário ser aprendido” (Campaign, 2011. Unschooling, 2011). Esta alusão indica desafio pertinente e fundamental para a vida das pessoas, acenando para dinâmicas cruciais da formação, contrárias ao instrucionismo, à memorização, à reprodução (Fonseca, 1998), muito embora não decorra disso que sua fundamentação seja satisfatória (por vezes é cognitivista, como no caso de Fonseca). Já que Holt é visto também como pai da desescolarização (Unschooling, 2011), em posição similar à de Illich (1971. Kamenetz, 2010), esta alusão pode insinuar que aprender a aprender dispensaria a escola, ao final das contas. Por mais que a educação não formal venha crescendo avassaladoramente e coloque a escola contra a parede (Rosen, 2010), não se pensa em acabar com a escola. Ao contrário, pensa-se em trazê-la para dentro do século XXI com renovada condição de equalização de oportunidades (Au, 2009. Zhao, 2009), porque hoje é uma entidade de séculos passados (Knobel & Lankshear, 2010. Kamenetz, 2010). 


O estigma de neoliberal é hoje assacado a torto e a direito apenas para ofender e pretensamente arrumar uma superioridade ridícula, por parte de “revolucionários” de plantão acomodados à sombra de propostas neoliberais inconfessas, também porque, quase sempre, não possuem nenhuma prática alternativa. Quando tentam alguma prática, aparecem coisas como piso salarial de mil reais, alfabetizar em três anos, aumentar os dias letivos, escola “integral”, formação docente apenas “presencial”, ciclos e promoção automática, e assim por diante. Neste texto não enfrento esta gama inteira de questões. Apenas procuro mostrar que “aprender a aprender”, como toda temática naturalmente ambígua, pode ser usada para inúmeros fins e oportunismos, mas igualmente para propostas bem fundamentadas. O abuso não tolhe o uso, assim como o abuso da web 2.0 no mercado não suprime a oportunidade de usá-la de modo adequado na escola, ou o abuso da espiritualidade em declarações de missões empresariais não desfaz sua importância na vida das pessoas e da sociedade (Demo, 2009; 2009a). 










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